Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzam com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o Povo fazendo sua língua. Como o Latim vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente sem que isso signifique a “vulgarização” do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
“Pra caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz idéia de maior quantidade do que “Pra caralho”? “Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática, física. A via-láctea tem estrelas pra caralho, o sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto dele pra caralho, entende?
No gênero do “Pra caralho”, mas expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!”. Nem o “Não, não e não!”, nem tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não!”, o substituem. O “Nem fodendo!” é irretorquível, liquida o assunto. Libera, com consciência e o ego tranqüilo, para outras atividades de maior interesse. (…)
Por sua vez, o “porra nenhuma” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!” ou “ele redigiu aquele texto sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês vêem, nos provê sensações de incrível bem-estar interior. (…)
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um “Puta que pariu!” ou seu correlato “Puta que o pariu!”, falados assim, cadencialmente, sílaba por sílaba… Diante de uma notícia irritante, qualquer um “Puta que pariu!” dito assim, lhe coloca outra vez em eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou lhe safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cu!”? e sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cu!”? Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio quando, passado o limite do suportável, dirigi-se ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Quer saber mesmo de uma coisa? Vai tomar no olho do seu cu!”? pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima.
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito de “foda-se!”? O “foda-se!” aumenta a auto-estima, torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas, liberta. “Não quer sair comigo? Então, foda-se!”.
O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na constituição brasileira: Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.
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